Porque não
Porque não te quero. Um homem escreve a uma mulher. E diz-lhe que não. Texto em português.
Sim, não damos na cama. Tenho de explicar melhor?
Então explico. Lembras-te da primeira vez? Percorri o teu corpo, com as mãos, com a pele, com a boca. Querias beijos. Está bem, tenho o beijo por mais íntimo que todo o outro sexo. Duzentas e cinquenta bactérias, no mínimo.
Mas beijei-te. Amassei-te. Masturbei-te. Na primeira vez não me deixaste passar a língua pelas partes que ainda não conhecia. Penetrei-te. Tens cona larga, mas pior que isso não há posição que se ajeite.
Quando fechas as pernas fico com o caralho à procura da cona que perdeu. Nunca me tinha acontecido mas é assim. Nem todos os corpos se fizeram para a arte de bem acoplar.
Por detrás? Bem, aí chegamos ao teu cu. Um monumento. Sem dúvida. Largo. Espaçoso, para não dizer avantajado. E rijo, as bochechas nem vacilam, puro músculo de assentar, diria. Não fosse a conversa sobre o que gostamos e não gostamos, já na segunda noite, e teria dado pulinhos só de antecipar. Mas disseste: anal, não.
Em primeiro lugar não se diz anal, diz-se ir-te ao cu. Enrabar-te. Eu bem te expliquei que é uma questão de competência do parceiro, o gostares ou não. Nem admitiste a hipótese.
Ter-te-ia excitado, antes. Ao ponto de virares a cabeça para todos os lados. E com o polegar na posterior da tua vagina entraria o indicador no buraquinho, esfregando os dois, primeiro devagar, depois em crescendo. Até que serias tu a virar as costas.
Acredito que não dirias: sim, enraba-me, mas devagarinho. Dirias, talvez, podes experimentar anal, mas com cuidado e tiras logo se me aleijares. O primeiro segredo viria aí: não, serás tu, quem vais meter. Depois de te lubrificar. Com óleo, claro. E seria a tua mão a guiar o meu caralho, que tem boas dimensões para tripas inexperientes. E terias acabado por dizer: foi bom. Nunca imaginei que podia ser tão bom. Com o cu já esporrado. Um bom cu o teu.
Pouco mais tens que se aproveite, o teu corpo é um desastre. As mamas amassam-se, mas não chegam a ter forma, são meias mamas. As pernas, então, nem falar. É claro que tens uns lábios de broche. Boca larga, lábios grossos e saídos. E bem disseste que oral gostavas, de fazer e de te fazerem. E eu fiz, mas não retribuíste. A desculpa da preguiça e do enjoo já nem rir faz, de ridícula. Querias apenas que eu te desse uns orgasmos, e que despejasse os colhões no sítio do costume.
Nem na terceira noite, quando realmente de cansados te pedi que me punheteasses, fizeste coisa de jeito. Usaste a força onde devias ter a habilidade. Não é um pau, é carne de sangue entumescida.
Eu vejo o sexo como um prazer a repartir. Troca por troca. A começar nas palavras. Foder não é consulta médica, é outra a linguagem. E detesto mulher que se cala, como se guardasse para si as emoções, envergonhada. Nas tintas. No mínimo à terceira manhã deverias ter percebido que gosto de acordar com o caralho lambido. Normalmente diria que uma mulher como tu, sem corpo atractivo, pelo menos um bom broche já deve ter aprendido a fazer. Ficarei na dúvida, mas inclino-me para que nem isso.
Os homens que te aguentaram seguramente que se amarraram aos teus enredos: inteligente és, dás a volta a qualquer papalvo. Os outros despejaram e bazaram. É a vida. É o que farei. Nunca teríamos jogos de dominação, que o teu feminismo patético te proíbe assumir na cama o que és afectivamente. Era amarrada na tua cama de ferro que te queria. Para diluires no orgulho o teu prazer na humilhação. Para que quando me abrisses a porta logo me desapertasses, e ajoelhada me chupasses. Só para aquecer.
Nunca sequer imaginarás o que perdeste. Paciência. Mulheres conheço mais. Com corpos belos e menos belos. Mas com fome. A fome de que lhes dê de comer.